Sombras que sonhavam com a Luz

Há sombras que não são apenas ausência,
mas memória do que um dia brilhou.
São restos de estrelas em silêncio,
esperando um novo amanhecer.
Sombras que sonham com a luz
não se contentam com a escuridão.
Elas carregam a esperança
como quem guarda brasas
embaixo das cinzas do mundo.
São sombras que já foram claridade,
e mesmo quebradas, lembram o caminho.
Carregam no peito um desejo mudo:
não desaparecer…
mas transformar-se.
Elas andam entre nós.
Nos olhos cansados de quem já perdeu muito,
nos corações partidos que ainda batem,
nos passos lentos dos que não desistem.
Às vezes são gente calada,
que olha o chão, mas sonha o céu.
Que não tem palavras, mas tem alma.
Que vive no escuro, mas caminha
como se soubesse onde o sol mora.
Pois há um sonho que vive
até no mais profundo breu:
o sonho da luz —
não como claridade fácil,
mas como verdade conquistada.
Sombras que sonham com a luz
sabem da dor, da queda, do abismo.
Mas sabem também que existe algo além,
que não se vê,
mas se sente.
Elas são feitas da luta entre o não e o ainda,
do espaço entre a dúvida e a fé,
do intervalo onde a dor se pergunta
se vale continuar.
E mesmo assim… continuam.
Pois sonhar com a luz
é resistir à escuridão
sem negar sua existência.
É saber que o brilho não é ausência do escuro,
mas escolha de seguir aceso.
O girassol nasce onde há sombra,
mas gira buscando o sol.
Assim também são essas almas:
raízes fundas na dor,
mas olhos voltados ao alto.
Às vezes, a luz é só um gesto,
um olhar que compreende,
uma palavra que acolhe,
uma mão que não solta.
E assim, aos poucos,
a sombra sonha e se ergue.
Vai se tornando mais leve,
menos medo, mais coragem.
Pois mesmo a noite mais densa
guarda o segredo da aurora.
E toda sombra verdadeira
é apenas um lado do caminho para a luz.
Quem vive na sombra e sonha,
já carrega dentro de si
um raio do que procura.
Porque sonhar com a luz
é já tocá-la —
com os olhos da alma.
No fundo, todos somos um pouco sombra,
um pouco clarão.
Todos temos partes apagadas
e outras que brilham sem saber.
E talvez o milagre esteja
em aceitar as trevas sem se render a elas,
em olhar para dentro
e descobrir que até na escuridão
há sementes esperando
por uma estação de luz.
Sombras que sonham com a luz
são promessas em gestação.
São fé em forma de silêncio,
são noites que guardam estrelas,
são túneis que conhecem a saída
sem ainda enxergá-la.
E um dia, quando menos se espera,
elas deixam de ser sombra.
Não porque a luz chegou de fora,
mas porque dentro delas
o sol finalmente nasceu.