A gravidade dos sonhos

A Gravidade dos Sonhos
Sonhos não são leves como nuvens.
Não flutuam apenas —
caem.
Pesam nos ombros,
nas pálpebras cansadas,
nas madrugadas em que o coração pulsa
mais forte que o relógio.
Sonhos têm gravidade.
Arrastam.
Exigem.
Chamam para dentro,
para o fundo onde mora
o que ainda não foi,
mas clama por ser.
São âncoras e asas.
Raiz e céu.
Nos prendem ao que desejamos
com uma força que não sabemos nomear.
Porque sonhar não é apenas querer.
É carregar.
É acordar com um nó na garganta,
sentindo o gosto do impossível
como se fosse real.
É andar com os olhos cheios de futuro
num presente que não entende.
É tropeçar em certezas alheias
enquanto se caminha por trilhas invisíveis.
A gravidade dos sonhos
não é física.
É da alma.
É o peso doce de uma promessa não dita,
o compromisso com o que ainda não nasceu.
Sonhar é dar nome ao que não existe
e tratá-lo como se já tivesse vida.
É construir com mãos vazias,
alimentar com fé o que o mundo nega.
Às vezes, os sonhos pesam tanto
que pensamos em deixá-los.
Mas ao tentar soltá-los,
percebemos:
é neles que nossa essência habita.
E sem eles,
flutuamos em vazio.
Há quem os esconda,
quem os diminua,
quem os adormeça com medo do fracasso.
Mas os sonhos…
eles não esquecem.
Eles nos chamam,
mesmo no silêncio.
E quando ignorados,
transformam-se em saudade do que não vivemos.
Em sombra do que poderia ter sido.
Em eco de um futuro que se perdeu
por medo de cair.
Mas e se cair for parte do voo?
A gravidade dos sonhos
não é castigo.
É sinal de que são reais.
De que têm forma,
substância,
pulso.
E os que têm coragem de carregá-los
aprendem que o peso pode ser caminho.
Que cada passo, mesmo trêmulo,
abre espaço no mundo
para o que só existe dentro de si.
Sonhar é desafiar a lógica,
mas não o sentido.
É carregar o invisível
até que ele floresça.
E quando, enfim,
o sonho toca a terra —
quando ganha corpo,
voz,
vida —
descobrimos:
a gravidade era só amor
em estado de espera.