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O rosto de Deus nas coias simples

O Rosto de Deus nas Coisas Simples

Não busques Deus nas catedrais imensas,
nos púlpitos de ouro,
nos altares ornados com joias e véus.
Busca-O no pão quente sobre a mesa,
na brisa que entra sem pedir licença,
no olhar calmo de quem te escuta sem pressa.

Porque Deus —
ah, Deus! —
tem o rosto escondido nas coisas simples.
É ali que Ele mora,
sem fazer barulho,
sem exigir grandeza.

Está no café repartido,
no silêncio entre dois que se entendem,
no toque leve de uma mão amiga
que chega sem dizer palavra.

Está na criança que sorri sem razão,
no idoso que caminha devagar,
no cachorro que abana o rabo
como se dissesse: “Tudo está bem”.

Deus se revela no que passa despercebido:
na folha que dança ao cair,
na luz que atravessa a cortina,
no cheiro de terra depois da chuva.

Nos minutos que parecem vazios,
mas que guardam eternidades secretas.

Seu rosto não tem forma definida,
mas tem presença.
Não brilha como relâmpago,
mas aquece como sol manso da manhã.

Deus está na mãe que vela o filho,
no pai que volta cansado,
no irmão que perdoa sem cobrar.
Está no pão que alimenta o corpo,
mas também no gesto que alimenta a alma.

Ele se deixa ver
quando alguém escolhe a bondade,
quando alguém cala o orgulho
e oferece paz em vez de razão.

Está no verso que toca fundo,
na lágrima que purifica,
no abraço que reconstrói.

Deus não precisa de holofotes —
precisa de olhos atentos.
Não grita nos céus,
mas sussurra no cotidiano.

E é por isso que, muitas vezes,
passamos por Ele sem notar.

O rosto de Deus está
no modo como tratamos o outro,
no modo como olhamos o mundo,
no modo como seguimos adiante
mesmo quando tudo parece ruir.

Está na paciência da semente,
no mistério da flor que se abre,
no voo breve do pássaro
que não teme o amanhã.

Ele é o tempo que se curva para nos ouvir,
é o espaço entre um medo e uma coragem,
é o fio invisível que une o que parecia partido.

E quando tudo estiver escuro,
quando nada fizer sentido,
olha ao redor —
nas frestas, nos pequenos brilhos,
nos detalhes.

Ali, onde a pressa não olha,
onde o ruído do mundo não alcança,
Deus sorri.
E esse sorriso basta.

Porque quem vê o rosto de Deus
nas coisas simples,
nunca mais anda sozinho.

Aprende a enxergar beleza na rotina,
sacralidade no comum,
e eternidade em cada instante breve.

O rosto de Deus não é feito de traços,
mas de gestos.
Não se prende ao céu,
porque já se plantou na Terra
em cada ato de amor.

Olha bem.
Talvez Ele esteja agora mesmo
no modo como lês essas palavras,
no silêncio que elas deixam,
no eco manso
que fica depois.

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