O Coração como medida do mundo

O Coração como Medida do Mundo
E se o mundo não coubesse nos mapas,
nem nos números frios,
nem nos tratados antigos,
mas batesse — pulsante —
no compasso de um coração?
E se o coração fosse régua,
bússola, fronteira e ponte?
Se em vez de territórios,
medíssemos afetos?
Se em vez de horas,
contássemos batidas?
O coração…
esse músculo invisível aos olhos,
mas visível em gestos.
Esse tambor secreto
que dita o ritmo da alma
quando a razão se cala.
O mundo não é feito só de chão,
mas de quem pisa sobre ele.
De quem ama, sofre, espera.
De quem escolhe, todos os dias,
não endurecer.
Talvez a verdadeira geografia
seja feita de vínculos:
mares de saudade,
cordilheiras de esperança,
desertos de silêncio,
florestas de encontros.
O coração como medida do mundo
vê além do visível.
Sabe que o maior continente
é um abraço dado no tempo certo.
Que um gesto simples
muda o eixo de um planeta interno.
Quem mede o mundo com o coração
não se importa com distâncias.
Sabe que há presenças
mais próximas do que o toque
e ausências
que nem o tempo apaga.
No coração cabem cidades inteiras,
rostos que nunca se esquecem,
histórias que viram eternidade
em apenas um instante.
O coração compreende
o que os mapas não dizem.
Que há caminhos que só se abrem
quando se caminha com ternura.
Que há mundos dentro de mundos
em cada ser que respira.
Ele é medida exata daquilo que importa:
do que faz sentido,
do que permanece,
do que salva.
E se todos os impérios ruírem,
se os relógios se calarem,
ainda haverá um coração batendo
como sinal de que algo vive,
algo resiste,
algo espera.
Pois a verdade do mundo
não está no que é contado,
mas no que é sentido.
Está no instante em que alguém escolhe
não ferir.
No silêncio onde nasce a empatia.
Na decisão de ouvir
antes de julgar.
O coração como medida do mundo
não cria muros,
cria pontes.
Não teme o outro,
o acolhe.
Não busca ter razão,
mas conexão.
E quando tudo for pó,
memória e ruína,
não serão os feitos grandiosos
que permanecerão,
mas os pequenos atos
em que o amor teve coragem de ser real.
Porque no fim,
não somos o que possuímos,
nem o que demonstramos.
Somos o que amamos —
o que tocamos com verdade,
o que deixamos bater fora de nós
com o ritmo do que há dentro.
Medir o mundo com o coração
é aceitar que ele é vasto,
imperfeito, inconstante —
mas sempre possível.
Porque enquanto houver um coração
capaz de sentir pelo outro,
o mundo terá salvação.
E será infinito
no exato tamanho
de um gesto sincero.