A Dança das horas invisíveis

As horas invisíveis dançam também
na solidão que ensina,
na espera que amadurece,
no gesto pequeno que salva um dia inteiro.
Elas dançam no fundo do coração
quando ninguém está olhando.
Enquanto o mundo grita,
elas sussurram —
com delicadeza de aurora
e paciência de maré.
É preciso desaprender o tempo
para vê-las.
Esquecer os ponteiros,
calar as urgências,
ouvir com o corpo.
Pois elas não se mostram ao apressado,
nem ao que exige sentido.
São artesãs do mistério,
fiandeiras do sutil.
Dançam nos olhos de quem contempla,
nos passos lentos de quem não corre mais,
na reza feita sem palavras,
no amor dado sem motivo.
E talvez — apenas talvez —
seja nelas que mora o real tempo.
Não o que envelhece,
mas o que eterniza.
Pois são essas horas que nos constroem,
que nos moldam sem alarde.
E ao final, quando olharmos para trás,
veremos que foram elas
que deram brilho à existência.
Não os grandes feitos,
não as celebrações marcadas,
mas os minutos sem nome
em que fomos inteiros.
A dança das horas invisíveis
não tem música externa,
nem aplausos ao fim.
Mas deixa, onde passa,
um rastro de eternidade.
E se, por um instante,
te deres ao luxo de parar —
parar de fato —
talvez a veja.
Talvez a sinta,
no compasso sereno
do teu próprio coração.
Há uma dança que ninguém vê,
mas todos sentem —
um balé mudo e constante
que atravessa nossos dias
com passos de sombra e luz.
É a dança das horas invisíveis,
aquelas que escorrem entre os dedos
como água morna
ou vento súbito.
Não batem à porta,
não pedem licença.
Chegam quando esquecemos do tempo
e se vão antes que possamos nomeá-las.
Estão no momento exato
em que o olhar se perde no horizonte,
no espaço entre o pensamento e a fala,
na pausa entre dois suspiros.
As horas invisíveis dançam
quando uma lembrança nos visita
sem motivo claro.
Quando sentimos saudade
de algo que nunca aconteceu.
Quando o silêncio pesa
como se fosse uma canção esquecida.
São elas que dançam
no intervalo do riso,
na espera de um abraço,
no instante em que uma lágrima não cai,
mas quase.
Elas não são marcadas nos relógios,
nem medidas em agendas ou cronogramas.
Elas moram no entretempo,
onde o mundo desacelera
e algo em nós desperta.
A criança que se distrai no chão
com uma folha que gira ao vento —
ela vê a dança.
O velho que fita o vazio
sem precisar explicações —
ele ouve a música.
É a dança que ocorre
quando o tempo se desnuda,
deixa de ser tarefa, prazo ou meta,
e se torna apenas… presença.