Despertart

Fragmentos de um Infinito Esquecido

Nos labirintos da memória,
há rastros de um tempo sem tempo,
ecos de um silêncio primordial,
vestígios de um infinito esquecido.

Não sabemos de onde viemos,
mas carregamos, sem saber,
pedaços de estrelas nos olhos,
poeira cósmica sob a pele,
e uma saudade que não tem nome.

Há algo em nós que não envelhece,
algo que não se curva às horas,
um brilho antigo,
um saber esquecido,
como se fôssemos ecos de um início
que ninguém mais se lembra de contar.

Em sonhos, esse infinito sussurra.
Está nas entrelinhas do sono,
nas sensações que não cabem em palavras,
nos instantes em que o tempo parece parar —
como se uma verdade imensa
fosse dita em silêncio.

São fragmentos, apenas.
Como cacos de um espelho divino
espalhados pelo mundo:
num poema que toca sem explicar,
num olhar que reconhece antes de conhecer,
numa melodia que parece já ter sido ouvida
em alguma vida que não lembramos ter vivido.

Quem somos, afinal, senão ruínas sagradas?
Vestígios de algo inteiro,
vestidos de pele e dúvidas,
caminhando entre o finito e o eterno
sem saber onde começa um e termina o outro.

Carregamos no peito
um mapa que esquecemos como ler.
Tentamos traduzi-lo com ciência,
com religião, com arte,
mas sempre falta um pedaço —
um canto do universo
que insiste em se esconder.

Talvez, em outra era,
éramos vastos como o céu,
livres como luz sem fronteiras,
e nos perdemos na aventura de sermos
humanos, mortais, limitados.

E agora, restam apenas fragmentos.
Vestígios desse ser imenso,
disfarçado em gestos pequenos,
em atos de amor,
em atos de criação,
em lágrimas que vêm sem razão.

Fragmentos que se manifestam
quando olhamos as estrelas e sentimos
que ali é casa.
Quando o pôr do sol nos cala
mais do que mil discursos.
Quando abraçamos alguém
e algo dentro de nós se alinha.

Talvez o esquecimento tenha sido necessário,
para que o reencontro fosse escolha.
Talvez só pudéssemos reencontrar o infinito
vivendo o limite —
caindo, errando, aprendendo
a costurar o divino com as mãos humanas.

Mas ele está lá.
No riso da criança,
na solidão do velho,
na coragem do que ama mesmo com medo.
O infinito esquecido pulsa
em cada gesto de ternura
que desafia o cinismo dos dias.

E pouco a pouco,
reunindo os fragmentos,
vamos reconstruindo o todo —
não como era,
mas como pode vir a ser.

Não como um retorno,
mas como uma ascensão.
Não para sermos deuses,
mas plenamente humanos —
lembrando que o infinito
sempre nos habitou.

Entre perdas e encontros,
entre sombras e luz,
coletamos pedaços do eterno
com mãos trêmulas,
mas olhos despertos.

E talvez, quando o último fragmento
se encaixar no silêncio,
descobriremos que nunca esquecemos de fato.
Apenas nos demos o tempo
de lembrar com alma inteira.

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