Entre o Tempo e a Eternidade

Entre o tempo e a eternidade
há uma ponte que ninguém vê,
feita de instantes que se desfazem
e de memórias que permanecem.
O tempo corre — um rio voraz,
devora tudo o que toca,
leva a infância nos ombros,
arrasta rostos, risos, rotas.
Tem pressa o tempo,
fala com os ponteiros,
marca com rugas o rosto,
com silêncios os dias inteiros.
É o escultor invisível das horas,
o senhor das rotinas e partidas.
Mas a eternidade não corre.
Ela paira.
Não se mede em calendários,
não conhece relógios,
não responde a alarmes ou prazos.
Ela é o que existe
quando tudo o resto deixa de ser.
É o espaço entre o começo e o fim,
o sopro que não passa,
a chama que não se apaga.
Entre o tempo e a eternidade
vivemos nós —
fiandeiros de sonhos e lembranças,
transitórios e eternos,
feitos de carne que sente
e alma que resiste ao pó.
O tempo nos dá o agora,
mas a eternidade nos pergunta:
o que deixas quando te vais?
O que há em ti que o tempo não pode levar?
A eternidade se esconde
no beijo demorado,
no abraço que diz mais que mil palavras,
no olhar que atravessa décadas
sem se perder no caminho.
Ela vive na arte,
na poesia que rompe os séculos,
na música que renasce a cada nota,
nos nomes que se sussurram
muito depois da morte.
Entre o tempo e a eternidade
há amores que não morrem,
há dores que não cessam,
há fé que resiste,
há perguntas sem resposta.
O tempo limita,
a eternidade liberta.
O tempo cansa,
a eternidade consola.
O tempo nos puxa para o chão,
a eternidade nos faz voar.
E mesmo assim,
precisamos do tempo
para descobrir o eterno.
Pois é vivendo o efêmero
que sentimos o que não se desfaz.
Na lágrima que cai sem aviso,
há um reflexo da eternidade.
No gesto simples de bondade,
há algo que o tempo não apaga.
Talvez o segredo esteja nisso:
em viver com os pés no tempo
e o coração na eternidade.
Em plantar flores em terrenos áridos,
sabendo que algumas só desabrocham
em jardins que os olhos não veem.
Somos viajantes de um instante,
mas com saudades do infinito.
Carregamos relógios no pulso
e eternidades no peito.
O tempo, esse mestre severo,
ensina com perdas e partidas.
A eternidade, porém, sussurra:
nada é vão, se foi por amor.
Entre o tempo e a eternidade,
há a vida —
esse milagre breve e intenso,
essa ponte tênue e brilhante
entre o que passa
e o que jamais deixará de ser.